Recordar, repetir, elaborar: um resumo da obra de Freud

Você já ouviu falar na obra “Recordar, repetir, elaborar”, de Freud? O texto escrito há mais de um século segue como uma das mais importantes referências no campo da psicanálise. Isso porque ela se faz atual mesmo após tanto tempo.

Então, se você busca uma análise completa sobre o texto e suas implicações na psicanálise em 2020, esse é o artigo certo para você. Além de compreender melhor seus ensinamentos, você verá também o motivo pelo qual o texto é tão importante.

Vamos começar?

Recordar, repetir, elaborar: como surgiu a obra

Em 1914, Freud escreveu um texto em que faz recomendações sobre a técnica analítica. O texto, “Recordar, repetir, elaborar”, vem a ser uma verdadeira síntese do que se faz numa análise.

Segundo a obra, em seu tratamento, o analisando irá recordar, rememorar diferentes formas de conteúdo. Ou seja, ele provavelmente conseguirá retornar à origem dos sintomas.

Logo, essa será uma viagem aos desejos esquecidos e às experiências da infância.  Esse retorno não se dá por fetiche pelo passado. Por outro lado, acontece pela necessidade de, no presente, no sofrimento, retornar e compreender o que se viveu no passado, para que se tenha condições de reinventar o futuro.

Antes, porém de chegar às recomendações de 1914, vale lembrar a trajetória e as modificações que a técnica analítica sofreu.

No primeiro momento, a Catarse tinha o foco no momento exato em que o sintoma se formava e o trabalho se prendia em reproduzir os processos mentais da experiência com o objetivo de dirigir-lhes a descarga ao longo da atividade consciente.

Logo, resumia-se em recordar e ab-reagir. Porém, com o aparecimento do conceito de associação livre, o foco do trabalho passa a ser a descoberta daquilo que o paciente permite recordar. Por meio da interpretação, o analista deve contornar a resistência e deixar que o analisando conheça os resultados desta.

A associação livre para interpretação dos sintomas

“As situações que haviam ocasionado a formação do sintoma e as outras anteriores ao momento em que a doença irrompeu conservaram seu lugar como foco de interesse; mas o elemento da ab-reação retrocedeu para segundo plano e pareceu ser substituído pelo dispêndio de trabalho que o paciente tinha de fazer por ser obrigado a superar sua censura das associações livres, de acordo com a regra fundamental da psicanálise”. (Recordar, Repetir e Elaborar, Trad. de Joan Riviere – pag. 2)

Por fim, desenvolveu-se a técnica hoje utilizada onde o analista irá interpretar os conteúdos da mente do analisando. Seu foco está em identificar as resistências e torná-las conscientes ao paciente.

Dessa forma, os trabalhos se consistem em revelar ao analisando suas resistências desconhecidas. Logo, após tê-las vencido, ele irá relacionar as situações e vinculações sem mais dificuldades. Ou seja, o objetivo se mantem em preencher lacunas na memória e superar resistências originadas da repressão.

Quando não é capaz de recordar as experiências do passado, o sujeito a repete. Sendo assim, quanto mais experimenta a vida como uma repetição sem sentido, ou como repetições que chegam como imposições do acaso, mais estará preso a um presente que não passa.

Consequentemente, ele acaba vivenciando uma neurose. Por isso, o tratamento analítico se inicia com uma repetição. O passado do analisando, seus afetos e desafetos são revividos na transferência. Com isso, aquilo que ele fala se repete na relação com o psicanalista.

A transferência na psicanálise

Outro conceito que surge na obra Recordar, repetir, elaborar é o de transferência.

Por vezes, a transferência acontece de maneira positiva possibilitando que o analisando traga à tona suas lembranças como faria numa hipnose. Porém, se por alguma razão a transferência for hostil e muito intensa, o paciente se defenderá do processo de recordação. Nesse caso, aparecerá a resistência, podendo levar o analisando a interromper o tratamento.

Aprendemos que o paciente repete ao invés de recordar e repete sob as condições da resistência. Portanto, podemos agora perguntar o que é que ele de fato repete ou atua (acts out).

A resposta é que ele repete tudo o que já avançou a partir das fontes do reprimido para sua personalidade manifesta — suas inibições, suas atitudes inúteis e seus traços patológicos de caráter.

Além disso, ele repete também todos os seus sintomas, no decurso do tratamento.

Recordar, Repetir, Elaborar: como aplicar no cotidiano da psicanálise

O trabalho mais difícil da análise é passar da repetição da transferência para a elaboração. Afinal, a força da repetição se uni à força da lembrança.

No entanto, quando o analisando consegue sair do estado de queixa e passar para a compreensão do sintoma, o tratamento consegue ir adiante.

Ou seja, quando a resistência está no seu auge, o analista tem a oportunidade de descobrir os impulsos instituais reprimidos. Esse tipo de experiência convence o paciente do poder que tais impulsos têm.

Por isso, o analista deve dar ao paciente o tempo necessário para conhecer a resistência que acabou de se familiarizar para só então, iniciar o processo de elaboração.

Para facilitar a prática, podemos citar o seguinte trecho da obra:

“Esta elaboração das resistências pode, na prática, revelar-se uma tarefa árdua para o sujeito da análise e uma prova de paciência para o analista. Todavia, trata-se da parte do trabalho que efetua as maiores mudanças no paciente e que distingue o tratamento analítico de qualquer tipo de tratamento por sugestão. De um ponto de vista teórico, pode-se correlacioná-la com a ‘ab-reação’ das cotas de afeto estranguladas pela repressão — uma ab-reação sem a qual o tratamento hipnótico permanecia ineficaz!” (Recordar, Repetir e Elaborar, Trad. de Joan Riviere – pag. 5).

Conclusão

Logo, o tratamento analítico se resumirá então no processo que se inicia na rememoração. Então, o entendimento de conteúdos que antes eram inconscientes e que agora são conscientes ao sujeito se faz possível.

Dessa forma, ele agora terá condições de dar novo significado aos acontecimentos, terá uma nova visão sobre os fatos. Ou seja, esses conteúdos são integrados à nós, fazem parte do que somos, mas em sua nova visão eles não causam mais dor.

E aí, o que você achou desse artigo? Caso ainda tenha dúvidas sobre o tema, deixe seu comentário no espaço abaixo. Aproveite também para divulgar o artigo nas redes sociais!

Escrito por: Mariza de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *