O surgimento da Psicanálise está intimamente ligada à vida do seu criador, Sigmund Freud. O médico psiquiatra que revolucionou o estudo da mente, utilizou as situações ao seu redor para conceber suas teorias acerca do comportamento humano e da mente.
A história da psicanálise começa com Freud, quando o teórico procura compreender a origem da neurose, psicose e histeria. O estudioso também fez análises sobre a sexualidade.
O marco que dá início à teoria é a publicação do livro Interpretação dos Sonhos, de 1899. Mas para atingir o objetivo central da teoria da psicanálise, o médico teve de se dedicar à mente humana e criar diversas teorias e estudos.
Todos esses estudos e métodos foram os precursores da teoria da psicanálise. Neste artigo, você vai conferir um breve histórico do surgimento da Psicanálise.
Fases do surgimento da Psicanálise
Freud inicia seus estudos, como médico, usando a biologia como base para suas produções científicas. Iniciou o estudo sobre cocaína e, logo depois, se mudou para Paris.
Pode se dizer que o surgimento da psicanálise começa quando Freud passa a se aprofundar no estudo da histeria. O teórico aprendeu sobre hipnose e, com o passar do tempo, foi ganhando notoriedade com suas análises.
Confira os marcos da história da psicanálise e como elas se desenharam para chegar na teoria que hoje conhecemos.
Primeiro momento: o método catártico
Freud era um neurologista, e atendia pacientes neuróticos. O surgimento da psicanálise começa quando o teórico, inquieto e curioso, queria descobrir a problemas que afligiam seus pacientes, na maioria mulheres. No início, acreditavam que a histeria era uma doença das mulheres, ligada ao útero.
Posteriormente, Freud detectou que se tratava de um desconforto provocado por algum fato da vida, e não doença (na definição médica), e atingia homens também.
Método “pequena histérica”
Em outubro de 1885, Freud vai a Paris com objetivo de assistir às aulas clínicas do maior neurologista da época, Jean-Martin Charcot, no Hospício de Salpétriére, um antigo arsenal construído sob Luís XIV que, no século XIX abrigava, sob condições desumanas, de 5 mil a 6 mil histéricas consideradas incuráveis. Era aí que Charcot ministrava suas famosas aulas clínicas, às terças-feiras, assistidas pela sociedade liberal e republicana de Paris.
Emma Bovary ficou conhecida como a ‘pequena histérica’. O método consiste em adormecer as mulheres, através da hipnose, para desaparecerem, provisoriamente, as paralisias e contrações. Com esse método, Charcot demonstra que a histeria é uma neurose funcional sem qualquer ligação com o útero. Pode ocorrer em homens e mulheres. Freud encanta-se com as aulas de Charcot.
Histeria e sexualidade
A partir de Charcot, Freud faz uma nova relação entre a histeria e a sexualidade. Alertou os homens sobre suas feridas genitais, mesmo não referidas por Charcot. Em 1882, Freud vai ao Instituto de Fisiologia de Viena e conhece o médico judeu, especialista em doenças nervosas, Joseph Breuer.
Breuer relata a Freud o caso de uma paciente jovem e inteligente, entre 20 e 21 anos de idade, filha da burguesia vienense, ocorrido antes de 1882. Era Bertha Pappeheim, identificada como Anna O.
A moça queixava-se de uma tosse nervosa, paralisia da perna e do braço direitos, perturbações no movimento dos olhos, diversas alterações da visão, repugnância pelos alimentos e, recusava-se a beber água por diversas semanas.
Apresentava, também, perturbações da consciência, vivenciando dois estados psíquicos diferentes, a cada momento do dia. Bertha se tornava incapaz de compreender sua língua materna, mas expressava-se muito bem em inglês.
Bertha e tratamento de hipnose
Este quadro coincide com uma longa e sofrida doença do pai, que o levaria à morte. O tratamento de Bertha se deu entre 1880 e 1882. Breuer utilizou a hipnose, e pedia a Bertha que falasse as ideias relacionadas aos seus sintomas.
À medida que lembrava de alguns fatos, Bertha falava, e os sintomas desapareciam. Nos dois anos de trabalho com Bertha, Breuer verificou que todos os sintomas estavam relacionados à assistência que Bertha havia dedicado à enfermidade e à morte do pai.
Depois das sessões de hipnose, Breuer notava que os afetos e as ideias que dominavam a paciente voltavam ao estado psíquico normal. Com várias sessões de hipnose, os sintomas desapareciam progressivamente.
Este método foi definido por Bertha como “tirar a fuligem da chaminé”. Por se tratar de uma espécie de limpeza da alma, de purgar, Breuer e Freud chamaram de “método catártico”, abrindo várias perspectivas para a investigação e o tratamento das neuroses.
Parceria entre Breuer e Freud
Durante os anos de parceria entre Breuer e Freud, com a utilização do método catártico, em novos pacientes, entre 1889 e 1895, Freud afirmou, em 1895, que, ao despertar do estado hipnótico, os sintomas das histéricas desapareciam imediata e definitivamente, ao se recordar com toda clareza dos processos geradores.
Freud e Breuer chegam a publicar o livro “Estudos Sobre a Histeria”, com a narração de vários casos, inclusive o de Anna O., considerada a primeira paciente analisada do mundo. O livro mostra o tratamento da histeria pelo método catártico.
Ainda não era a psicanálise. Mas já era uma terapia através da fala. Dezessete anos depois, as investigações sobre histeria levariam a dois resultados: os sintomas histéricos carregam um sentido, um significado, que substituem os atos psíquicos conscientes; quando se descobre o significado, há uma supressão dos sintomas.
Objetivo do método catártico
A partir de então, as origens dos sintomas neuróticos, o seu significado e sua profunda relação com a existência são desconhecidos da pessoa que os apresenta. O sujeito não tem consciência dos motivos dos sintomas e os considera como estranhos a si mesmo. A neurose faz com que o sujeito esqueça o processo que motiva os seus sintomas, como se os excluísse de sua consciência.
No entanto, este processo oculto permanece em funcionamento, manifesta-se em palavras e em um conjunto de sintomas e “deslizes” do paciente. Para Freud, os sintomas neuróticos são os resultados ativos dos motivos inconscientes ocultos.
Assim, o principal objetivo do método catártico era o de ampliar o campo consciente do sujeito, através da hipnose. Buscava-se fazer com que o paciente se “lembrasse” e exprimisse em palavras todas as ideias e recordações do estado psíquico onde foram originados cada um dos sintomas ausentes, até então, da consciência. Após comunicar tais processos anímicos ao médico, os sintomas desapareciam.
Mas ainda não era psicanálise.
Segundo momento: o método da associação livre
No decorrer de suas investigações, Freud admitiu que o método catártico, através da hipnose, não apresentava um êxito terapêutico esperado: os sintomas desapareciam temporariamente, apenas. Além disso, havia um pequeno número de pessoas ‘hipnotizáveis’. Estes foram alguns dos motivos que levaram Freud a abandonar a hipnose.
Para Freud, apesar das causas das perturbações dos neuróticos não estarem na consciência do sujeito, em determinados momentos, poderiam ser recuperadas através da insistência do médico como forma de tratamento terapêutico. Freud deixa de lado a hipnose e pede que seus pacientes fechem os olhos, concentrem-se, e aplica-lhes uma ligeira pressão sobre a testa, incentivando-os a recordar e falar tudo o que lhes viesse à lembrança, como ideias, impulsos, fatos, relacionados aos seus sintomas neuróticos.
Mas, em 1889, a paciente Fanny Mozer disse a Freud: “Não fale comigo, não me toque. Escute-me”. Em 1892, a paciente Isabel de R. o censurou, durante o tratamento, por ele interrompê-la na elaboração de seus pensamentos com intervenções e perguntas. Assim, entre 1892 e 1898, Freud abandona progressivamente todo tipo de intervenção de pressão sobre o paciente, passando do antigo método catártico ao definitivo método psicanalítico, também chamado de associação livre do paciente enquanto ele exercia uma atenção flutuante.
Divã no surgimento da psicanálise
Foi também a “invenção do divã”. O paciente deitava em uma cama atrás da qual Freud ficava sentado, a vê-lo, sem ser visto por ele. Era o uso da palavra como um ato terapêutico. Os pacientes contam suas histórias, conforme se recordam, associadas às suas queixas, desde a infância, fantasias, sonhos, ainda que julgassem trivial, impertinente, incoerente e vergonhoso.
Assim, coletava um material farto acerca dos “esquecimentos” de seus pacientes. Nascia, então, a Psicanálise através da associação livre e da interpretação das palavras do paciente.
Ao escutar a fala caótica dos pacientes, Freud atribui à sexualidade um papel fundamental. A partir deste ponto, a Psicanálise segue sua epistemologia, em pleno desenvolvimento, através de seus seguidores e dissidentes.
Fontes bibliográficas:
BOSCH, Magda. et al. Freud e a Psicanálise. Rio de Janeiro. Salvat: 1979
Documentário: A invenção da psicanálise. De Elisabeth Roudinesco e Elisabeth Kapnist, incluindo comentários de Peter Gay. França: 1997
Documentário: Freud Além da Alma. Filme de John Huston, baseado no livro de Jea-Paul Sartre. EUA: 1962.
Artigo escrito por Pedro M. Filho, publicado originalmente neste blog Só Psicologia. Deixe seu comentário e diga o que achou do artigo.