O processo terapêutico psicanalítico e o inconsciente

O processo terapêutico psicanalítico é uma ferramenta utilizada para abrandar conflitos internos, situações que causam sofrimento na vida de pessoas. O processo terapêutico permite que o paciente possa entender melhor a razão desses conflitos e melhorar sua qualidade de vida.

Este artigo identifica como funciona o processo terapêutico, quais são as técnicas utilizadas pelo terapeuta, bem como um breve resumo da teoria que deve ser aplicada no dia a dia do paciente.

O processo terapêutico

O processo terapêutico psicanalítico tem como principal característica trazer ao consciente os conflitos internos. Propicia explorar e investigar os significantes inconscientes, os desejos insatisfeitos, experiências traumáticas recalcadas, para, desta forma, minimizar o sofrimento do indivíduo.

O terapeuta dispõe da técnica de “associação livre”, a regra fundamental da Psicanálise, que consiste em ouvir sem qualquer restrição ou julgamento.

Momento do paciente dizer tudo que lhe ocorra à mente, independente se parece importante ou não. Freud investigava, analisava e interpretava, graças à atenção flutuante que é a técnica da escuta uniformemente flutuante, que, para Freud (1912), consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e em manter a mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ (…) em face de tudo o que se escuta.

Portanto, a escuta e a fala assumem um lugar central no diálogo clínico do processo terapêutico psicanalítico. No inconsciente estão os conteúdos que não estão presentes no nível consciente e devido a censuras internas, eles são mantidos reprimidos. O processo terapêutico proporciona aos pacientes um contato com suas “moradias internas”.

Consciente, inconsciente e processo terapêutico

Passamos, então, a fazer a diferenciação de consciente e inconsciente que é a premissa básica da psicanálise. Trata-se da primeira tópica, onde Freud descreve a vida mental a partir de sistemas de memórias.

Ao que não está na consciência, mas que pode ser trazido sem maior esforço, latente, chamamos de “pré-consciente” (Pcs). O “consciente” (Cs), como o próprio nome já diz, é o que está na consciência em cada momento, relacionando os estímulos e informações oriundos do mundo externo e do mundo interno.

É responsável pela percepção, atenção e raciocínio. A consciência como uma espécie de interface entre o aparelho psíquico e o mundo externo. O aparelho psíquico é um constructo teórico que representa o modo como a vida mental se organiza.

Já o “inconsciente” (Ics), está fora da consciência e requer um grande trabalho para ser acessado de alguma maneira. São conteúdos reprimidos e que não têm acesso direto ao sistema pré-consciente e consciente.

Resistências no processo terapêutico

Freud não descobriu o inconsciente, pois já era disseminado no meio científico; porém, fez dele uma peça central da sua teoria. Ao longo do processo terapêutico, por meio da fala, dá-se a oportunidade ao paciente de se familiarizar com suas resistências, com aquilo que recalcou; ou seja, os conteúdos reprimidos no inconsciente que ficam limitados pela barreira do recalque, e que produzem os sintomas atuais, através dos sonhos, dos atos falhos etc.

Um passado que torna-se presente. Segundo Freud (1914), deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência com a qual acabou de se familiarizar, para elaborá-la, para superá-la, pela continuação, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a regra fundamental da análise.

O próprio silêncio pode ser também um indicador de resistência, e assim indicar conteúdos significativos numa análise. A repressão é considerada a pedra angular da Psicanálise, pois ela dá sentido ao mecanismo que produz os sintomas neuróticos, isto é, defesa psíquica ou recalque.

Para Freud, há um processo psíquico onde certos conteúdos deslocam outros da consciência, aquelas ideias relacionadas ao trauma, sejam elas recordações de um acontecimento desprazeroso ou de uma fantasia prazerosa, mas que tornou-se aversiva. A repressão como explicação da neurose.

Teoria do aparelho psíquico

Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego; trata-se da segunda tópica. ID: designa toda a nossa parte primitiva e instintiva, sem freios ou restrições morais. É regido pelo princípio do prazer. EGO: ponte entre a nossa parte interna com o mundo externo.

As funções básicas do ego são a percepção, memória, sentimentos, pensamento. Busca atender os desejos do ID e as impossibilidades do Superego. Regido pelo princípio da realidade.

SUPEREGO: repressor aos nossos impulsos internos, tais como limitações, proibições e autoridade; refere-se às exigências sociais e culturais. A moral, os ideais são funções do superego.

O id que seria uma dimensão inconsciente e originadora dos impulsos mais primitivos de sobrevivência, agressividade e sexualidade. O Superego que é o “depósito” de toda a moralidade conservada pela educação e influência cultural que recebemos. E por fim o Ego que irá administrar os impulsos vindos do id, negociar com as restrições do Superego e tentar se adaptar à realidade que o cerca. (MATTOS, 2012,
p.1).

Os mecanismos de defesa são realizados pelo ego e são inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade do indivíduo. São utilizados por subjetividades neuróticas, sendo alguns deles: recalque, formação reativa, regressão, projeção, racionalização.

Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos desagradáveis, protegendo, desta forma, o aparelho psíquico.

Recalque no processo terapêutico

O recalque tem como objetivo manter fora do consciente tudo o que for captado pelo ego como sendo insuportável pelo indivíduo. Ele surge nos momentos em que ocorre a necessidade de defender contra as frustrações, contornando a realidade angustiante. É um mecanismo de defesa que busca manter as pulsões na esfera inconsciente.

Assim, enquanto a repressão origina-se tanto dos fatores do ambiente externo e interno ao indivíduo, o recalque origina-se apenas no que concerne a fatores que são internos dele.

Formação reativa

A formação reativa ocorre quando o indivíduo age de maneira oposta ao que deseja, isto é, quando experimenta um desejo instintivo ou inconsciente que rejeita conscientemente. Isso faz com que o indivíduo desenvolva um impulso oposto ao que ele rejeita. Os impulsos inaceitáveis são modificados para torná-los aceitáveis.

Regressão

Na regressão, ocorre o retorno a atitudes passadas que o indivíduo provou serem seguras e gratificantes e às quais busca voltar para fugir de um presente angustiante. Um fato ocorrido na infância que permaneceu latente, podendo ser despertado posteriormente.

Projeção

Na projeção, o indivíduo atribui a objetos externos aspectos psíquicos que lhe são próprios, mas não são reconhecidos como seus, não os aceita; ou seja, o indivíduo atribui a outras pessoas suas ações e desejos contra os quais quer negar.

Racionalização

Na racionalização constrói-se um discurso puramente racional que conduz à auto proteção e evita o sentimento de culpa. Os mecanismos de defesa são responsáveis por assegurarem que o indivíduo consiga conviver saudavelmente com suas pulsões e seu bem-estar psíquico.

Fontes utilizadas para produção do artigo:

FREUD, S. (1912) “Recomendações aos médicos que exercem a
psicanálise”, XII, p. 121-134.
FREUD, S. (1914) “Recordar, repetir e elaborar”, XII, p. 159-172.
MATTOS, A. S. (2012) “A gênese do conceito de resistência na
psicanálise”. Disponível em
https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/a-repressao-e-o-recalque-na-psicanalise.
Acesso em 22 de maio de 2020.

Texto produzido por Virgínia Morandi, especialmente para o blog Só Psicologia.

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