A Associação Livre é um elemento técnico fundamental para a compreensão da psicanálise e aplicada também em psicologia. Porém, até chegar a este entendimento, Freud percorreu um longo caminho que se inicia com os estudos sobre a histeria.
Freud, médico psiquiatra, renomado neurologista, se depara com pacientes acometidos por problemas nervosos, diante das restrições de tratamento resolve ir até Paris para realizar estudos com o francês Jean-Martins Charcot, conceituado neurologista que tratava seus pacientes portadores de problemas mentais através da hipnose, este possuía o entendimento de que os “histéricos” portavam anormalidades no sistema nervoso, informação que propiciou a Freud novas oportunidades de tratamento.
A partir de então, Freud adota o método da sugestão hipnótica para tratamento de seus pacientes, entretanto, quando resolve aliar-se ao médico Josef Breuer, descobre que, pelos relatos dos pacientes sobre suas fantasias e alucinações, junto com a prática da hipnose, seria possível trazer ao consciente dos pacientes suas memórias ocultas, e como resultado, o desaparecimento dos sintomas, a esta prática deu-se o nome de método catártico.
Anna O. paciente de Breuer, fora a responsável por indicar a potência curativa das palavras em andamento, a partir deste caso é que se chegou à conclusão que a palavra, o discurso, funcionam como uma espécie de “metabolismo” do mal estar.
A origem da associação livre
Com o passar do tempo, Breuer começa a discordar de Freud principalmente com relação aos argumentos apresentados quanto a importância das memórias do paciente e seus conteúdos sexuais advindos da infância, levando ao rompimento da parceria.
Durante toda essa trajetória, Freud ainda adota a prática da técnica da pressão, usada para pressionar a testa dos pacientes com o objetivo de ajudar o paciente a trazer conteúdos do inconsciente a sua consciência, técnica definitivamente abandonada por despertar a resistência dos pacientes ao tratamento.
Freud então, abandona a hipnose e segue com seus atendimentos adotando a concentração como técnica de tratamento, o que significa, dar voz ao paciente de uma forma não direcionada, levando-o a rememoração através da conversação normal chegando a descoberta da técnica da associação livre, o que nada mais é do que a possibilidade da fala sem restrição ou julgamentos.
É o método que possibilita a investigação, análise e interpretação através da escuta, usando da atenção flutuante para relacionar a fala ao inconsciente do indivíduo. A palavra, sem estabelecimento prévio, com suas curvas, estruturas, contradições, verdades ou mentiras, passa a ocupar o cenário e se torna elemento fundamental da análise.
Como se aplica a associação livre na terapia?
Dentro do espaço clínico, o uso da técnica associação livre é o que possibilita a análise do não dito, a percepção do entorno do que está sendo transmitido, a palavra dita é o caminho que nos conduz a percepção e interpretação do que está submerso no inconsciente do paciente.
Falar tudo que lhe ocorre faz parte do processo de análise. É papel do psicanalista observar a pronuncia das palavras, pois no momento em que as expressões fogem da linearidade, e talvez, as palavras não produzam sentido, faz-se necessária a intervenção do psicanalista para compreender e identificar as causas do sofrimento deste paciente, que, por sua vez, aguarda alívio para seus sintomas.
Para melhor compreensão do texto, segue um divertido conto para análise e reflexão:
‘Diga-me o que vier a mente. Essas foram as primeiras palavras da nova terapeuta. Claramente respeitando a regra fundamental do idealizador de sua abordagem, Freud. Após passar por três profissionais, ao longo de 5 anos, e diferentes abordagens, a paciente estava decidida a conhecer o processo da psicanálise, o divã e seus resultados.
Deitada, deu início a sessão com relatos da briga que acabara de ter com sua mãe. Sentiu-se desconfortável por não visualizar as feições e reações da terapeuta. Continuou. Estava furiosa. Entre um relato e outro, passou a refletir a relação que mantinha com a mãe de amor e ódio.
Duas mulheres fortes disputando o mesmo espaço. A progenitora, embora amorosa, rígida e enfática na regulação moral. A progênie tenta encontrar o equilíbrio entre viver sob as pulsões do ID e Ego, e lidar com a culpa advinda do Superego, tudo isso dentro de um ambiente castrador. Sentiu remorso por fazer as reclamações, lembrou que aquela era a forma que a mãe entendia amar e proteger sua prole. Passou a procurar adjetivos para a mãe, na tentativa de não só reclamar, mas também reconhecer suas qualidades, sem se dar conta disse:
– Ela é uma âncora!
– Hummm…
– Ufa! Finalmente alguma intervenção! A paciente já estava incomodada com todo aquele silêncio. A terapeuta Continuou:
– Âncora?! Que relação pesada, né? Te puxa, te impede de avançar, te prende!
Não era esse o sentido que queria ter dado, porém, aquela interpretação era tudo o que sentia. Percebeu quão pesada estava aquela relação e que resultados traziam para sua vida, como se não conseguisse sair do lugar. Terminada a sessão. A paciente só conseguia pensar: – Por que simplesmente soltei a palavra âncora, se na verdade queria ter dito, porto seguro?’
Este texto sobre Associação Livre é de autoria de Aline Maia.